Métodos contraceptivos podem gerar eventos tromboembólicos na mulher?

A trombose consiste na formação de coágulos dentro dos vasos que acabam obstruindo a circulação sanguínea e podem migrar para outros sítios vasculares, configurando a embolia. Segundo especialistas, a cada 100 mil pessoas, pelo menos 60 são acometidas por essa doença. O assunto tem ganhado a vez entre as mulheres, principalmente sobre a sua relação com os métodos conceptivos.

A angiologista, Marina Fonseca explica que existe sim um risco maior para a trombose em mulheres que usam alguns medicamentos em específico para evitar a gravidez, entretanto, é preciso avaliar, pois, cada caso é um caso. De acordo com a especialista, “o anticoncepcional, por ser composto de hormônios como estrogênio e progesterona, contribui não só para a formação de coágulos, mas também para que as paredes das veias fiquem mais dilatadas (o que predispoe ao surgimento das varizes)”.

Marina frisa também que “existem dois tipos de trombose: a arterial e a venosa. Quando isso ocorre na artéria, ocorre a trombose arterial. Quando na veia, dá origem à Trombose Venosa Profunda (TVP)”.

“Boa parte das pacientes faz uso de anticoncepcional ao longo da vida e não vão intercorrer com trombose. Anticoncepcionais combinados, de estrogênio e progesterona, são os responsáveis pela trombose. Na teoria geram resistência à proteína c reativa, que é um anticoagulante natural do organismo. Dessa forma, há uma tendência aumentada para formação de trombos”, completa.⠀

Ela elucida que “histórico familiar; estigmas e manifestações que sugerem trombofilia; situações especiais como, imobilização prolongada ou pós-operatório”, são alguns dos fatores de risco para a ocorrência de trombose. Entre os principais sintomas estão: calor, dor, vermelhidão e inchaço local.

A angiologista relata que “em 90% dos casos, a patologia atinge vasos na perna, segundo a Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular (SBACV). A trombose pode causar embolia pulmonar e até óbito, por isso exige muita atenção e cuidado.”.

Como tratar?

O tratamento varia de acordo com o tipo de trombose em que o indivíduo tenha. No caso da trombose venosa, na maioria dos casos, o tratamento baseia-se no uso de anticoagulante associado ao uso de meias de compressão. Já na trombose arterial pode ser tratada apenas com anticoagulante em casos leves ou necessitar de uma cirurgia de urgência para desobstrução da circulação, pelo risco aumentado de amputação do membro inferior.

“O angiologista ajuda a avaliar os riscos de trombose associados ou não ao uso de anticoncepcional. Mas a decisão por descontinuar o uso do anticoncepcional deve ser feita junto com o seu ginecologista”, reafirma a médica.

Em relação àqueles que já tiveram trombose, o uso oral de hormônios combinados não é recomendado pela médica. Porém, Marina alerta que os contraceptivos hormonais de progesterona pura, via oral ou injetável, podem ser usados. Assim como o DIU Mirena que possui liberação local de estrogênio e progesterona, que não contraindica seu uso”.

Para mulheres com diagnóstico de Trombofilia, a angiologista sugere “o uso de DIU de cobre ou prata, anel vaginal, ou os anticoncepcionais de progesterona. Pacientes que fumam não devem usar anticoncepcional combinado pelo aumento drástico na chance de intercorrer com trombose”, perfaz.

E como devemos proceder com uma paciente que faz uso contínuo de pílula anticoncepcional e intercorre com trombose? A resposta parece estranha em um primeiro momento, mas o ideal é manter a pílula.

“Os anticoagulantes orais aumentam muito o risco de sangramento uterino (27 a 30% risco). Têm-se como consequência, uma incidência muito elevada de sangramento uterino anormal (SUA) ou metrorragia, a ponto de ter que ir ao pronto socorro com necessidade de curetagem uterina ou de receber hormônio para cessar sangramento. Além disso, quando se suspende a pílula o efeito pró-coagulante só cessará quatro semanas após essa suspensão. Dessa forma, não há necessidade de suspender a pílula enquanto estiver anticoagulada”, integra em detalhes.

A médica afirma ainda que “a melhor conduta é manter a pílula enquanto a paciente estiver em uso de anticoagulante oral e encaminhá-la para o ginecologista, para a troca do contraceptivo de forma segura, inibindo o risco de sangramento aumentado com a suspensão hormonal”.

Ademais, ela deixa um alerta sobre a listagem de métodos contraceptivos que podem ou não ser usados para cada situação em específico. “Lista de anticoncepcionais mais relacionados com trombose: Selene, Diane, Belara, Level, Ciclo 21, Microvilar. Anticoncepcionais orais que não se relacionam com aumento do risco de trombose: (progesterona pura): Cerazette, Norestin e Juliet. Dentre os contraceptivos mais adequados para quem já teve trombose temos o DIU de Mirena, que gera redução de fluxo menstrual, por atrofia endometrial, tendo esse efeito benéfico em usuárias de anticoagulante”.

Fonte: Marina Fonseca, médica angiologista e especialista em cirurgia vascular. Atua em consultório próprio, em Belo Horizonte (@dramarinafonseca).


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