Falta de informação adequada é a principal causa de riscos e desentendimentos entre pais e filhos adolescentes, saiba como abordar o assunto de forma natural
Falar sobre sexo com os filhos ainda é uma tarefa complicada em boa parte dos lares brasileiros. Os diversos tabus acerca do assunto pode transformar uma simples conversa em uma situação embaraçosa e desconfortável – tanto para os adultos, quanto para os menores de idade. Porém, falar sobre sexualidade é fundamental para preservar a saúde física e mental no início da vida sexual, além de conscientizar sobre os riscos, cuidados, consentimento, dentre outras questões importantes sobre o tema.
Segundo Aline Bicalho, consultora em sexualidade e fundadora do Movimento Amigas da Bunita, um dos principais erros, atualmente, é o fato dos pais sempre esperarem até o último momento para abordar o assunto ou até mesmo ‘terceirizarem’ esse diálogo. “A vergonha parte dos dois lados. O problema é que a maioria dos jovens tem acesso a internet, conversam com os amigos, buscam informação em outros locais. Ou seja, os filhos aprendem sobre sexo cada vez mais cedo. Então, enganam-se os pais que acham que evitar falar sobre o assunto vai impedi-los de conhecer o universo sexual. Portanto, é muito melhor aprender de forma segura”, diz.
Outro ponto destacado por Aline é que essa uma questão social e de mão dupla. “É como se, culturalmente, fôssemos separados em caixinhas sociais. Pais se iludem acreditando que filhos não transam. Filhos ignoram completamente a vida sexual dos pais, tem até mal estar em falar disso. Os avós então, são vistos como ‘imaculados’. É preciso sair dessas caixinhas e conscientizar que desejo sexual é inerente à humanidade e que existe em qualquer idade”, completa.
Educação sexual deve começar na infância?
Aline indica que o melhor caminho é iniciar o assunto aos poucos levando em consideração a faixa-etária dos filhos. “A educação sexual é importante desde os primeiros anos de vida. E, ao contrário do que muita gente imagina, isso não quer dizer falar sobre o ato sexual com crianças. Educação sexual é sobre ensinar limites, conscientizar e falar de forma saudável sobre o próprio corpo. Por exemplo, ainda na infância, ensine a criança que algumas partes do corpo devem ser protegidas e jamais tocadas por outras pessoas que não sejam os pais na hora de realizar a higiene pessoal. Ensine também sobre respeito e consentimento. Caso não queira receber um carinho, como abraço ou beijo no rosto, por exemplo, a criança deve se sentir à vontade para dizer não e, ao mesmo tempo, respeitar outras crianças que também não estejam a vontade com essas demonstrações de carinho”, esclarece.
No período inicial da adolescência, Aline recomenda que a abordagem pode ser um pouco mais detalhada sobre o ato sexual em si. “Muitos adolescentes começam a vida sexual precocemente pela falta de informação ou incentivos externos de amigos, por exemplo. Portanto, sempre bata na tecla do consentimento e respeito com o próximo e consigo mesmo. Explique que ao sentir atração por outra pessoa, você está aberto a dialogar e tirar todas as dúvidas necessárias. E também não se esqueça de ser sincero, sem a necessidade de inventar histórias mirabolantes sobre o tema. Nessa idade, eles já têm plena consciência e, na maioria das vezes, vão odiar esse tipo de situação, fazendo com que percam a confiança”, destaca.
E tudo isso com muita empatia, deixando claro que já passou por isso tudo também. “Conte quais eram seus medos, fale do que sentia. Revisite seu passado e crie uma conexão real com esse jovem”, completa.
Auxílio profissional
Entre as atitudes mais importantes, de acordo com a consultora, está o acompanhamento profissional em todas as fases da vida. “Lembre-se de manter o apoio de educadores e médicos. Se tiver qualquer dificuldade em conversar sobre sexualidade com os filhos, busque ajuda de um psicólogo, por exemplo, para conversar e orientar sobre a melhor abordagem. Também incentive os filhos a cuidarem da saúde psicológica e física em todos os aspectos. Mostre que o sexo é algo natural e que deve ser feito com segurança e responsabilidade. Tentar esconder informações e evitar o diálogo nunca é a melhor opção”, alerta.
Fonte: Aline Bicalho, consultora em sexualidade. Formada em sexualidade, erotismo e cultura, Líder A Sós. Empresária e criadora do Movimento Amigas Da Bunita. Casada e mãe de 3 filhos.